Nuno Machado Lopes lançou o livro Tudo Mudou Novamente. Os objectivos são simples: desmistificar os planos de desenvolvimento e apoio ao empreendedorismo dos dias de hoje que apelida de êngodo. Fruto de uma grande experiência e exposição ao tema, o autor chama a este movimento um “pseudo-crescimento económico” e nós fomos perguntar-lhe porquê.
![Livro Tudo Mudou Novamente](/assets/blog/0516/tudo-mudou-novamente.jpg “Livro Tudo Mudou Novamente”)
O autor Nuno Machado Lopes tem um percurso tão peculiar quanto diverso. Sabia que foi o promotor de uma das salas de espectáculos mais míticas de Lisboa? O Paradise Garage? Mas que antes disso ainda trabalhou na bolsa e teve uma produtora discográfica? Pois é, todas estas experiências, e ainda aquelas que vai ler adiante, têm como denominador comum um grande espírito empreendedor.
O livro Tudo Mudou Novamente é o registo de todas as suas vivências e aprendizagens enquanto empresário, colega, trabalhador e, sobretudo, as reflexões de alguém atento às mudanças do mundo que o rodeia. O livro não é pessimista. É realista. Ser empreendedor parece fácil, e tem tudo para ser aliciante, mas criar é também saber sustentar a criação. E é aqui que Nuno Machado Lopes se foca. Não no sonho, mas na realidade e na solidão que muitos dos que querem ser líderes não sabem que vão sentir.
# Da Bolsa de Londres à música, do marketing à comunicação, e agora à escrita com o livro Tudo Mudou Novamente. Qual é a história do seu percurso e o que aprendeu até aqui?
Com seis anos, por razões profissionais do meu pai, saí de Portugal e fui viver para o Bahrain, tendo ido frequentar uma escola americana na base naval. De seguida fui para Inglaterra. Inicialmente, fui para uma escola perto de Cambridge, tendo, posteriormente, entrado em hotelaria. Findo este curso, ingressei na Universidade de Londres onde me licenciei em Management & Systems.
Terminado o curso, tive a sorte (milhares de pessoas concorriam a dois lugares vagos) de entrar de imediato para o HSBC Markets. Todavia, dois anos foram suficientes para aprender a minha primeira grande lição de vida – o dinheiro não traz felicidade (sentia-me miserável naquele trabalho da Bolsa) e existem questões bem mais importantes.
Sem razão aparente, decidi regressar a Portugal, onde não conhecia ninguém, e onde nunca tinha passado mais do que um mês de férias. Todos me diziam ser algo completamente irracional, mas a decisão afigurou-se mais forte do que eu.
Foi em Lisboa que passei as últimas duas décadas como empreendedor: ora como criador de uma mítica e internacionalmente conhecida sala de espetáculos, ora como criador de uma agência de marketing, de uma empresa de produções e de uma editora discográfica, em parceria com a Universal Music.
Porém, chegou o momento em que me apercebi de que voltara a ser escravo de uma empresa e que já não fazia aquilo de que verdadeiramente gostava. Então vendi tudo com o intuito de me dedicar apenas a ser um freelance advisor. A verdade é que só consegui estar três meses neste formato, visto, entretanto, ter chegado a licença para avançar com o desenvolvimento do espaço que é hoje em dia o Silk Club. Retomei assim o caminho de empreendedor na restauração, desta vez, no segmento premium.
Actualmente divido o meu tempo entre os meus negócios e a Beta-i, mantendo-me cada vez mais ligado ao ecossistema, quer como director de marketing da Beta-i, quer agora como director do melhor programa de aceleração em Portugal – o Lisbon Challenge.
# O Paradise Garage é um espaço incontornável na noite de Lisboa. Qual foi o maior desafio que sentiu na gestão desse negócio? E qual foi a maior aprendizagem?
Foram tantos, demasiados, por vezes. Como espaço multiusos, eclético, apesar de intimista, cada semana era completamente diferente da anterior: cada artista ou banda trazia novos desafios a nível da organização, produção e logística, até porque a maioria dos artistas que por lá passaram eram verdadeiramente icónicos a nível mundial. Geríamos vários conceitos com targets muitos diferentes que não convinha cruzar. Deste ecletismo resultou, indubitavelmente, a capacidade de solucionar rapidamente os problemas, de os desconstruir, de os simplificar e, acima de tudo, de os antever. Ter uma equipa unida, determinada, incansável e à altura dos desafios foi fundamental para o sucesso retumbante de muitas e inesquecíveis noites de espetáculo ao longo de mais de uma década. Aprendi a criar e a gerir uma cultura interna que conseguia o melhor de cada um na gestão do espaço.
# Um livro constitui, igualmente, um projeto de empreendedorismo. Como é que foi criá-lo, geri-lo e partilhá-lo? Que expectativas tem?
Tive a mais-valia de estar exposto a dezenas de startups que estavam no início da sua jornada enquanto empreendedores. Como a sorte haveria de ditar, aprendi tanto ou mais com eles do que eles comigo. Pesquisei, testei novas ideias e formas de pensar nos Fundadores – eles tornaram-se as minhas cobaias insuspeitas, e os programas de aceleração o meu laboratório. Ao notar uma tendência, comecei a escrever, para meu uso pessoal, as lições que aprendera. Acima de tudo, comecei a testemunhar como as nossas mentes e o nosso estado de espírito influenciam as decisões que tomamos e que, em última instância, decidirão o destino do nosso negócio.
Decidi reunir todas estas experiências neste livro, que será tudo menos um guia definitivo, muito menos um manual teórico para o empreendedorismo, nem, tão pouco, a visão de um especialista em negócios e startups. Escrevi-o como uma forma de reflexão. Esta é a minha voz e a minha experiência. É a minha – às vezes distorcida e inevitavelmente parcial – visão sobre o empreendedorismo.
Redigi-o inicialmente em Inglês porque queria que, à semelhança das publicações norte-americanas, fluísse. Tinha de ser uma história na qual todos pudessem, de certa forma, identificar-se com os exemplos. Pedi a um Fundador com quem já tinha trabalhado para servir de beta-tester e mais uma pessoa para adaptar o livro para português.
Fiquei muito contente com o resultado final e o feedback que recebo indica que, na realidade, está escrito num registo de fácil compressão e assimilação. Encontro-me no início da sua divulgação, chegando, pouco a pouco, junto daqueles a quem acredito que o mesmo seja útil. Mas na realidade, escrevê-lo é bem mais fácil do que promovê-lo. A editora é… uma editora com lacunas ao nível da competência e profissionalismo. De resto, parece-me que está a correr bem.
# Porque sentiu necessidade de escrever sobre o “impiedoso mundo do empreendedorismo”?
Penso que o facto de se celebrar demasiado o fracasso e a disrupção como o caminho correto e fácil no mundo do empreendedorismo, ouvindo muitos proclamar “o que tens a perder?” levou-me a insurgir-me contra este modismo.
O empreendedorismo, que englobava todas as empresas e todos os tipos de negocio, foi agora substituído pela startup que, se seguirmos em rigor a sua definição de Silicon Valley, é um conceito que parece atualmente definir empresas de tecnologia cujo objetivo é somente o crescimento exponencial, normalmente de utilizadores e não de vendas. E isto coloca de parte a vasta maioria de empresas, PMEs, que são as que podem diminuir o desemprego, diminuir a desigualdade social e aumentar o crescimento económico. Startups em geral não criam emprego – pelo contrario, destroem (disruptam) o emprego. É que quase sempre, a maioria dos postos de trabalho “criados” são para engenheiros. Nada de errado se existisse uma oferta capaz de satisfazer a procura – a Comissão Europeia prevê que em 2020, existirá um défice de 1 milhão de engenheiros.
Existem muitas formas de sermos empreendedores e é importante mostrar os dois lados para que cada pessoa tenha a coragem e informação para escolher o que quer fazer e não sentir pressão do “ecossistema” para vender a sua alma. Há uma necessidade de começarmos a ter um dialogo mais intelectualmente honesto sobre o empreendedorismo.
![Nuno Machado Lopes](/assets/blog/0516/nuno-machado-lopes.jpg “Nuno Machado Lopes”)
# O modelo de Silicon Valley, que afirma que os políticos estão a implementar em Portugal, vai funcionar ou não? Será um engodo? Porquê?
O modelo de Silicon Valley está concebido para satisfazer os investidores e os poucos ditosos que têm a sorte de receber várias rondas de investimento. O “culto da disrupção” está a disruptar tudo, incluindo o nosso futuro. Os 3 maiores desafios que a Europa enfrenta – desemprego jovem (60% + nos países de primeiro mundo), a desigualdade social (os ricos ficam mais ricos e os pobres mais pobres) e a falta de crescimento económico – piorarão cada vez mais se seguirmos rigorosamente o modelo Silicon Valley. O que vale é que já muitos começam a questionar este modelo.
Basta ir à pagina do StartUP Portugal para perceber que nos estamos a focar demasiado em startups sobre o lema de empreendedorismo global como “o destino ideal para criar, testar, falhar e voltar a tentar”. Sério? E as centenas de milhares de outros empreendedores que criaram empresas, verdadeiro emprego e tudo sem o “apoio” de fundos de investimento novamente alavancados pela União Europeia? Aqueles que sobreviveram 8 anos à maior crise económica de sempre?
# Como caracteriza o espírito empreendedor em Portugal?
Sempre fomos empreendedores e sempre que as barreiras de entrada baixavam, mais pessoas escolhiam criar um negócio. Sempre criámos negócios nas mais variadas vertentes, mas o espírito de empreendedorismo não deve ser substituído pelo vício da ganância nem pela obsessão de criar um “unicórnio”. Devemos promover o empreendedorismo no qual startups sejam um subconjunto (pequeno) do empreedendorismo e não vice-versa. Portugal sempre teve, e continua a ter, talento, mas não deve ser visto simplesmente como um local de mão de obra barata. Necessitamos de encontrar mecanismos para ajudar e fomentar a criação de todos os tipos de empresa, seja ela uma fonte segura de rendimento ou uma empresa capaz de operar globalmente. Portugal não é uma “vila”, nem é demasiado pequeno para fazer negócios – dizer o contrário não faz justiça às oportunidades que existem no nosso país.
# Qual a maior lição que um jovem empreendedor pode retirar do livro?
Que não existe uma única lição e que não se alcança o sucesso que pretendemos sem aprender muitas lições. A vida é feita de pormenores e, cada vez mais, se torna complexo repartir desafios em múltiplas peças para que cada uma seja mais fácil de resolver.
Tentei colocar no livro todas as ferramentas que fui acumulando ao longo das últimas duas décadas como empreendedor, retirando o bullshit que muitas vezes vem associado. Por vezes pode parecer desarticulado, mas a vida é mesmo assim. Temos de ter a capacidade de ir de tema em tema percebendo cada um e aplicando o que aprendemos sozinhos, mas acima de todo com os outros.
# O que é que os empresários já estabelecidos podem reaprender consigo?
Não me parece que se trate de uma reaprendizagem, mas sim que sejam expostos a áreas sobre os quais possam não ter conhecimento ou experiência, nomeadamente as soft skills. Tive de passar por períodos muito difíceis para perceber que devermos colocar de parte factores que não controlamos e que, pelo contrário, deveremos focar-nos naquelas variáveis que estão ao nosso alcance, mas que requerem aprofundarmos as razões pelas quais funcionamos de forma tão ineficiente quando enfrentamos desafios.
Aprendermos a estarmos conscientes das nossas emoções (enfrentarmos os nossos demónios), a estarmos presentes na nossa vida pessoal e profissional sem que se contamine cada uma, a alterar a nossa conversa interna que, por defeito, leva-nos sempre para o mais negativo, e aprendermos a sermos mais tolerantes são tudo formas de aumentar a qualidade da nossa vida. Poucos praticam esta forma mais profunda de auto introspeção.
# No seu livro atribui bastante ênfase à sustentabilidade de uma empresa e afirma que ser empreendedor é uma “jornada solitária”. Que conselhos daria a quem se prepara para começar o seu próprio negócio?
Nem todos querem criar empresas de mil milhões de dólares ou inventar the next big thing, mas a maioria é capaz de criar um negócio sustentável capaz de lhes assegurar um bom nível de vida.
É importante reflectirmos sobre o que verdadeiramente queremos, sobre a nossa definição de sucesso e de felicidade para que se comece a construir um futuro que tenha a ver connosco em detrimento de uma reação, isto é, de uma postura que é, supostamente, esperada por nós.
Antes de começar o seu próprio negocio, fale com muitos empreendedores, passe tempo nesse ambiente e procure aqueles que possam o ajudar nas diferentes alturas e etapas.
# No capítulo “Cultura primeiro, clientes só depois” cita um artigo do CEO do InvoiceXpress, de Rui Pedro Alves. Porque é que a cultura de uma empresa está tão relacionada com o sucesso da mesma?
Na maioria dos negócios, o produto e o preço do mesmo assumem um papel demasiado importante no futuro da empresa o que leva a que nunca se crie um produto verdadeiramente útil e desejado. Construir uma cultura forte promove uma verdadeira vantagem competitiva, difícil de rivalizar, por oposição à facilidade que se tem em copiar um produto, baixar o seu preço em relação aos equivalentes no mercado ou aliciar o colaborador mais valioso da concorrência. A cultura não é copiada. No melhor dos cenários é compreendida, adaptada e implementada para se ajustar à empresa, assegurando relevância e contexto.
A cultura da empresa é o seu ADN e todas as decisões, desde o recrutamento ao marketing, são (deveriam ser) tomadas nessa base – melhor que seja sólida e bem definida.
O Rui e, por defeito, a Rupeal, têm demonstrado a importância de definir e fomentar uma cultura interna forte e acredito que os resultados são bem visíveis.
# Porque é que a RUPEAL, e o InvoiceXpress, por consequência, são para si um exemplo?
Muito simples – a definição e implementação da cultura de uma empresa começa com os responsáveis, e neste caso o Rui Pedro Alves. Tive a oportunidade de acompanhar Tony Hsieh e a Zappos durante anos e fiquei surpreendido quando conheci o Rui e a Rupeal – não conheço muitos outros exemplos em Portugal de Fundadores que dedicam tanto tempo e recursos à definição e manutenção da cultura interna. Acredito que a qualidade do(s) produto(s) advém da cultura da Rupeal e faço questão de ir almoçar com o Rui no mínimo uma vez por mês – acabo sempre por aprender novas técnicas e formas de melhorar a cultura das empresas com quem trabalho.
# Como conheceu o InvoiceXpress? O que o fez escolher o nosso software de faturação?
Na altura, andava desesperado com os outros softwares de contabilidade, pois não eram web-based e pouco ou nada tinham evoluído. Estavam sempre a crashar e a sua utilização necessitava sempre de uma enorme dose de paciência, especialmente se implicasse ter de falar com a linha de “suporte” – pelo menos isto é o que lhe chamavam, pois de suporte pouco ou nada tinham.
Conheci o InvoiceXpress através de uma pesquisa online e quando comecei a utilizá-lo apercebi-me logo de que era diferente de todos os outros – ou seja, funcionava exactamente como prometia. Na altura, foi a primeira vez que comprava um software português sem a preocupação de me informar como era o suporte. Diga-se de passagem, que o software português evoluiu exponencialmente nos últimos tempos.
Alias, senti a necessidade de escrever no meu blog sobre a experiência intitulado Se Não Utiliza InvoiceXpress Não Deve Estar Bem da Cabeça.
# O que destaca na utilização do InvoiceXpress? Em que medida é que este programa é útil à gestão das suas atividades?
É sempre difícil pensar na utilização deste tipo de software, pois quando o mesmo funciona tão bem como o InvoiceXpress, não paramos para pensar porquê. Além de funcionar exactamente como esperamos, destaco o seu elevado nível de usabilidade. É importante conseguirmos facturar rapidamente, mas também gerir toda a parte da facturação. Utilizámos outros softwares que têm as funcionalidades do InvoiceXpress incorporadas, mas acabámos sempre por deixá-las de parte – confiança é tudo e eu sempre confiei no InvoiceXpress.
Para acompanhar as novidades, podem seguir o site do livro Tudo Mudou e o mesmo está disponivel para venda na FNAC Cascais ou na Chiado Editora.
Resta-nos terminar e deixar o diálogo aberto. Partilhe connosco a sua experiência como empresário e empreendedor.