A inflação começou a estar na ordem do dia, em 2022, motivada, seja pelas consequências da Pandemia Covid-19, seja pela guerra na Ucrânia, com o aumento generalizado dos preços das matérias-primas, bens e serviços essenciais, assim como pelos problemas nas cadeias de abastecimento mundiais. Em outubro daquele ano a inflação ultrapassava os 10%.
Afinal, o que é a inflação?
Inflação: os preços aumentam, como devo preparar o meu negócio?
Quando estamos perante este cenário de aumento generalizado dos preços, o consumo retrai e pode ser um problema para qualquer negócio. O segredo para ultrapassar este desafio está na adaptabilidade do empreendedor, que poderá seguir as nossas 7 estratégias para preparar o seu negócio para a subida da inflação e ultrapassar um momento desafiante como este.
No final do ano passado, para além da inflação, a economia dava sinais claros de abrandamento, registou-se falta de confiança nos agentes económicos e turbulência nos mercados financeiros.
Em 2023, o cenário da economia continua a ser desanimador, não só por causa da inflação, mas porque há a conjugação de vários elementos que trazem preocupação acrescida.
A inflação, a estagnação da economia e o desemprego
Segundo os dados do INE (Instituto Nacional de Estatística), publicados em maio de 2023, a taxa de variação homóloga do Índice de Preços no Consumidor diminuiu para 4%. Porém, esta redução da inflação explica-se, por um lado, pelo facto de, em 2022, nesta altura ter aumentado a eletricidade, o gás e os produtos alimentares e, por outro, pela presente isenção de IVA em alguns alimentos essenciais.
De notar que o Índice de Preços no Consumidor, usado para medir a inflação, é calculado com base num cabaz de compras com bens e serviços essenciais consumidos pelas famílias.
Mas, apesar de ter diminuído face a 2022, a inflação continua alta (4%) e as taxas de juro também (Euribor a 3 meses 3,733%; Euribor a 6 meses 3,944%; Euribor a 12 meses 4,081%), conforme foi comunicado pela Lusa.
Já em 2022, em entrevista ao Observador, o governador do Banco de Portugal, Mário Centeno, admitia a possibilidade de ocorrerem alguns fatores em simultâneo, como a inflação aumentar e o crescimento económico desacelerar, mas manifestava otimismo quanto ao desemprego.
Contudo, os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) revelam uma realidade mais pessimista: o aumento do desemprego. No primeiro trimestre de 2023, a taxa de desemprego aumentou para 7,2%.
Isto significa que o cenário em Portugal pode ser de estagflação? O fenómeno é raro, mas preocupante. Vamos perceber melhor o que é.
Estagflação: O que é?
A estagflação combina inflação elevada, estagnação do crescimento económico e aumento do desemprego, em simultâneo.
Resumindo, eis os indicadores da Estagflação:
- Inflação (Aumento do Índice de Preços do Consumidor)
- Crescimento económico (estagnação – PIB negativo)
- Desemprego (Aumento)
Estagflação: Porque é um fenómeno raro?
O fenómeno é raro porque, normalmente, a junção de inflação alta, estagnação ou regressão económica e alto desemprego acontecem em momentos diferentes do ciclo económico e não em simultâneo.
Por exemplo:
Crescimento da economia >> há mais poder de compra >> há mais procura >> os preços aumentam = inflação.
Economia regride ou estagna >> há menor poder de compra >> há menos procura >> os preços descem = inflação desce (deflação) + desemprego sobe
Habitualmente, aos momentos de crescimento, seguem-se momentos de contração financeira e assim sucessivamente. É o ciclo económico natural.
Mas, o fenómeno que acontece aquando da estagflação é que não há crescimento económico (o PIB é negativo), os preços aumentam (devido a questões externas abruptas) e o desemprego acentua-se.
Esta situação de estagflação em que se verificam, ao mesmo tempo, fatores típicos do crescimento e da contração financeira é rara e difícil de controlar.
Quais os maiores períodos de estagflação ao longo da história?
Em 1965 falou-se pela primeira vez em estagflação na Câmara dos Comuns britânica, em que o ministro Ian MacLeod confirmava a conjunção de estagnação económica e inflação.
Depois a situação repete-se ao longo da década de 70, em períodos diferentes, devido ao crescimento da economia dos países ditos desenvolvidos.
Durante a crise mundial dos anos 70, estava em curso uma guerra Israelo-árabe, que afetava o mercado petrolífero e aumentava o preço dos combustíveis. O dólar americano estava em desvalorização, o PIB nos Estados Unidos da América foi negativo durante vários trimestres, a inflação naquele país chegou a 10% e o desemprego a 9%. Na Europa, o desemprego atingiu cerca de 10% da população ativa. Apenas para mencionar alguns acontecimentos que afetaram a economia que enfrentava a recessão, o desemprego e o aumento de preços.
Como a estagflação afeta os negócios e as famílias?
Normalmente, a estagflação surge de choques repentinos – externos – nas cadeias de abastecimento que afetam a capacidade produtiva. Ou seja, aumentam os custos de produção, e, por isso, aumentam os preços, mas a procura desce.
Na sua generalidade, a estagflação traz mais pobreza para todas as classes sociais, especialmente para quem vive de rendimentos mais baixos. Por sua vez, o aumento dos preços e o menor poder de compra das famílias traduz-se em menor investimento e reduzidas margens de lucro por parte das empresas.
Torna-se incomportável aumentar salários.
Torna-se difícil aumentar a procura.
O escoamento dos seus produtos pode ser mais difícil e exige medidas preventivas e outras de aplicação imediata nas empresas.
Como estão os indicadores da estagflação em Portugal?
– A inflação
Portugal está a ser afetado, como o resto mundo, pelos efeitos da Guerra da Ucrânia, pela crise energética, e muitos outros fatores externos, que provocaram a subida da inflação, em 2022, até valores que já não eram verificados desde os anos 90.
Aliás, tal como já vimos, em outubro atingiu-se 10,1% de inflação em Portugal, que, no entanto, tem vindo a desacelerar como confirma o Boletim Trimestral da Economia Portuguesa. Por exemplo, a inflação em abril foi de 5,7% e em maio 4%, devido a várias medidas implementadas pelo governo português, nas quais se inclui o acordo de médio prazo de melhoria dos rendimentos, dos salários e da competitividade. Por sua vez, o Fundo Monetário Internacional (FMI) prevê inflação de 5,6% em Portugal, até ao final do ano.
– O Crescimento (PIB)
Segundo o Boletim Trimestral da Economia Portuguesa, em 2022 o PIB, indicador da riqueza criada num país, cresceu 6,7% em volume, tendo contribuído, de forma positiva, a procura interna e o abrandamento do consumo público. No entanto, o crescimento da economia foi desacelerando ao longo dos trimestres.
Por um lado, aceleraram as exportações de bens e serviços, com forte contributo do turismo. Por outro lado, abrandou a produção industrial.
No primeiro trimestre de 2023, os indicadores de confiança dos consumidores aumentaram. Segundo dados divulgados pelo Eurostat e publicados no Semanário Expresso, o PIB cresceu 2,5% nos primeiros meses do ano, fazendo com que a Comissão Europeia revisse em alta a previsão de crescimento para 2023 de 1% para 2,4% e o FMI para 2,6%.
– O Desemprego
Em 2022, o mercado de trabalho manteve-se resiliente, com a taxa de desemprego a atingir os 6%, no entanto, com aumentos de 2% da população empregada. De acordo com o Boletim Trimestral da Economia Portuguesa, nos primeiros meses de 2023 a população empregada continuou a aumentar, mas a taxa de desemprego também, situando-se nos 6,8% em abril. Esta percentagem é também confirmada pelas estatísticas mensais de emprego e desemprego do INE.
São, efetivamente, as ações dos governos, em cooperação com as instituições bancárias nacionais e internacionais, que podem corrigir o problema da estagflação, com, por exemplo:
- medidas de apoio ao emprego/combate ao desemprego;
- Incentivo ao consumo;
- Incentivo ao aumento dos salários;
- promoção do crescimento económico;
- aumento das taxas de juro para reduzir a inflação;
- redução das taxas de juro para motivar o crescimento económico, etc.
Contudo, aumentar a produção, mas com custos elevados, para fazer crescer a economia num mercado, por si, desequilibrado e sensível, é tarefa árdua.
Estando ou não a economia portuguesa a viver um cenário de estagflação, o melhor é prevenir. Siga as nossas dicas para manter a sua empresa de boa saúde financeira neste cenário económico de incerteza.
5 dicas para sobreviver a um cenário de estagflação
- REVER O ORÇAMENTO
Rever o seu orçamento, principalmente as despesas, para perceber onde pode cortar, que investimentos pode fazer, como pode criar poupança ou evitar gastos ou custos operacionais desnecessários.
- COBRAR
Receber o que não foi pago pelos clientes também proporciona ao seu negócio a capacidade de pagar aos seus fornecedores a horas, mantendo a sua tesouraria saudável. Aposte num programa de faturação online certificado como o InvoiceXpress para controlar o dinheiro que é necessário cobrar. Siga ainda as nossas 12 dicas de tesouraria para empreendedores.
- POUPAR
Os empreendedores devem manter, em qualquer caso, um fundo de reserva para acionar perante imprevistos. Mas, mesmo assim, devem reforçar a poupança do negócio. Uma das formas pode ser a renegociação dos contratos e parcerias com os seus fornecedores de matérias-primas, de energia, de comunicações, etc.
- INVESTIR
Pode parecer um paradoxo, mas o importante é fazer mais dinheiro seja a curto, médio ou longo prazo. O ideal são os investimentos com retorno acima da inflação. Pode optar também por investir na eficiência energética, com retorno, acima de tudo, de longo prazo.
- AMORTIZAR
Com a subida das taxas de juro para baixar a inflação, é importante amortizar as dívidas com juros variáveis mais elevados, definindo pagamentos extra para as dívidas mais elevadas, continuando a pagar as restantes a um valor mínimo. Além disso, pode sempre tentar negociar taxas de juro mais baixas para cumprir com os pagamentos.
Numa economia com taxas de juro elevadas, inflação e desemprego, o desafio é manter a faturação saudável. Pode contar com o InvoiceXpress, programa de faturação online, para o ajudar nessa missão!